Chapa Dilma-Temer: Operação encontra indícios de que dono de gráfica seja laranja

Michel Temer e Dilma Rousseff
PF procura provas de que firmas contratadas por campanha petista não prestaram serviço


   A força-tarefa criada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fez na terça-feira buscas em endereços de 20 pessoas e empresas, incluindo três gráficas, contratadas para prestação de serviços à chapa de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB) na campanha eleitoral de 2014. Num dos endereços visitados, os investigadores encontraram indícios de que o suposto dono de uma das gráficas pode ser um laranja — seu nome teria sido usado indevidamente para encobrir transações, segundo disse ao GLOBO uma fonte que acompanha o caso.







O suposto empresário, responsável em tese pela movimentação de altas somas, não soube responder a perguntas dos investigadores. As buscas foram determinadas pelo ministro Herman Benjamin nas gráficas Focal Confecção e Comunicação, Rede Seg e VTPB Serviços Gráficos e em endereços de empresas subcontratadas por elas durante a campanha. O ministro é relator do processo que pode levar à cassação da chapa Dilma-Temer.


O endereço registrado como sede da Rede Seg Gráfica e Editora é uma sala comercial num bairro da periferia de São Paulo. O local tem pouco movimento e, na maioria do tempo, fica fechado, segundo funcionários de outras salas alugadas no prédio de dois andares. Não há qualquer identificação no local da Rede Seg. No térreo, um depósito seria usado pela Rede Seg para estocar material da gráfica, que tem como proprietário oficial um motorista da empresa, Vivaldo Dias da Silva.


Esse foi um dos lugares inspecionados ontem pela Polícia Federal em São Paulo. Há a suspeita de que tenha havido um esquema de desvio de dinheiro no financiamento da campanha da chapa em 2014.


Outra empresa investigada é a Focal Confecção, que fica num galpão em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Diferentemente da Rede Seg, ela tem letreiro na fachada, e, segundo moradores da região, o movimento durante a eleição foi grande. Assim como a Rede Seg, a Focal teve em seu quadro societário um dos motoristas da empresa, Elias Silva de Matos. O GLOBO procurou as duas empresas para comentar a ação da Polícia Federal, mas nenhum responsável foi encontrado.


As diligências foram realizadas em São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina. A força-tarefa é formada por policiais federais, técnicos da Justiça Eleitoral, fiscais da Receita Federal e funcionários do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Herman Benjamin também determinou a quebra do sigilo fiscal de 15 empresas e pessoas investigadas. Na decisão, o ministro diz que as diligências têm como objetivo analisar a capacidade operacional das empresas contratadas.


Relatório preliminar da força-tarefa, entregue à Corregedoria do TSE há duas semanas, aponta indícios de desvios na campanha de Dilma e Temer. As conclusões foram endossadas pelo vice-procurador-geral eleitoral Nicolao Dino. Após analisar o resultado das investigações da Polícia Federal no caso, o procurador concluiu pela “existência de fortes traços de fraude e desvio de recursos repassados às empresas contratadas pela chapa presidencial eleita em 2014”.


Só a Focal teria recebido da campanha R$ 24 milhões. A empresa está em segundo lugar no ranking dos maiores prestadores de serviços a Dilma e Temer. Só perde para o marqueteiro João Santana, que recebeu R$ 70 milhões. Para os investigadores, a gráfica e outras empresas não teriam condições de atender as demandas de uma campanha presidencial.


Segundo a força-tarefa, documentos encontrados na busca de ontem reforçariam as suspeitas. A análise final do material caberá ao ministro Herman Benjamin. As investigações começaram a partir de um pedido do PSDB, após as eleições de 2014.


Em nota, a defesa de Dilma criticou a decisão de Herman Benjamin. Para os advogados de Dilma, não havia necessidade das diligências neste período de recesso do Judiciário. “Causa perplexidade que, decorridos quase dois anos de intensa investigação pelo TSE, seja proferida decisão judicial, a ser cumprida no período de recesso do Poder Judiciário e sem qualquer fundamento de urgência”, diz o texto.









Já Temer evitou criticar a operação da Polícia Federal.


— Faz parte da investigação. Isso é natural, não há nenhuma irregularidade nisso. A investigação segue adiante com depoimentos, perícias, enfim, fatos como este que visam exatamente a instruir o processo que está no Tribunal Superior. Nenhuma preocupação — afirmou Temer.


Também em nota, a gráfica VTPB negou ser uma empresa fantasma e ter praticado lavagem de dinheiro. A empresa assegurou que toda a documentação que comprova a prestação de seus serviços para a campanha de Dilma e Temer foi apresentada às autoridades fiscais e eleitorais — além de comprovação do pagamento de fornecedores, guias de transporte e nota de entrega do material, segundo a empresa. A VTPB diz ainda que a Procuradoria Eleitoral já se manifestou pelo arquivamento de seu envolvimento e que estaria sendo julgado novamente pelo mesmo fato. “A VTPB não é fantasma, nem tampouco cometeu lavagem de capitais (…) trabalha há anos fornecendo material para campanhas políticas, tinha o melhor preço e qualidade de material”, diz a nota.

















@ 28/12/2016 | FONTE |

Compartilhar no Google Plus