O PM Marcos Diniz (nome fictício), 41, fazia bico como motorista do Uber no início de novembro. Armado, reagiu e matou três assaltantes. Um vídeo o mostra chutando a cabeça de um dos homens no chão, o que o transformou em alvo de críticas. Por outro lado, houve quem o elogiasse, como o deputado Major Olímpio (SD-SP), que disse que o PM devia pedir música no “Fantástico” pelas três mortes.
Nasci e me criei na zona leste. Na adolescência trabalhei num escritório de engenharia, mas tive que sair da empresa. Meu irmão já era policial. Fiz o concurso e passei de primeira, em 1996. Em 2009, fiz o curso de instrutor de tiro e desde então ministro aula para o efetivo da polícia, uma vez por semana.
Trabalho nas minhas folgas, faço outras atividades dentro da polícia. Complemento a renda pensando no sustento da minha mulher e dos meus filhos. Se não fizer trabalho extra, não consigo mantê-los na escola.
Surgiu essa oportunidade do Uber e decidi fazer um teste. Estava completando dez dias. Se desse certo, permaneceria, mas meu carro consome bastante, já tinha visto que não valeria a pena.
Em todos os dias [no Uber], fui sem arma. Nesse dia específico, ia comemorar aniversário de relacionamento com a minha esposa. Saí 6h da manhã do trabalho, fui para casa, descansei, acordei e liguei o aplicativo.
Falei: ‘Vou rodar por aqui para não sentir tanto à noite’. Por conhecer a região, a primeira coisa que pensei foi levar a arma. Eu moro e trabalho na periferia, sou conhecido. Há vários relatos em que o policial de folga é identificado e corre risco.
Fiz três corridas, estava encerrando, quando teve uma nova chamada. Apareceu o nome de uma mulher, Cida. Cheguei e vi três rapazes. Um me chamou pelo nome. Perguntei se tinha sido ele que solicitou e ele falou que tinha sido a tia. Associei ao nome e pedi para entrarem. Disseram que antes passariam em um lugar para pegar uma moça, e paramos a uns 500 metros.
O passageiro da frente desceu e ficou disfarçando. Nisso, recebi uma coronhada de um dos passageiros de trás. ‘É um assalto, não se mexe.’
O rapaz entrou novamente, pegou meus celulares e pedi para levarem o dinheiro, mas não o carro. Aí o de trás me bateu de novo. Olhei, na torcida de que fosse um simulacro [réplica de arma], e vi a munição dentro do tambor do revólver. Pensei: ‘Deus do céu, me protege’. Comecei a pensar onde pegaria o tiro. Até aí, não pensava em reagir.
Em determinado momento, a minha porta abriu. Não tinha percebido que o outro passageiro de trás tinha descido. Lembrei da minha arma, que estava no chão, e pisei nela com os dois pés para que ele não visse.
Pedi para conversar. Nisso o rapaz de trás foi taxativo, bateu com o cano no meu ouvido e falou que, se eu não descesse, ele ia me matar. Quando o de fora me puxou, peguei a arma e o alvejei. Ele já corre baleado.
Desci e dei o segundo disparo, pega de raspão no rosto dele.
Aí fui no carro. Quando abri a porta [traseira onde estava o homem que o agredia], ele estava deitado, com a arma apontada para mim, tentando atirar. Vi o cano da arma na minha cara. Não sei o que aconteceu. O revólver só tinha três munições em um tambor de seis. Não sei se girou em falso ou se a arma travou.
Tirei o corpo e, quando vi que não disparou, voltei e alvejei ele. Foram quatro disparos. Um pegou no rosto e três nas costas. Fui para trás do carro e vi ele caído. Aí vi o terceiro correndo. Para mim, estava todo mundo armado. Depois, vi que não. Se tivesse certeza disso não teria atirado. Quando vi que [esse terceiro homem] estava próximo, meu primeiro intuito foi cessar a agressão, por isso que atirei. Errei os dois primeiros, no terceiro acertei e ele caiu.
Voltei para ver onde o primeiro que tinha corrido estava e o encontrei caído. Pensei na arma e voltei pro veículo. Ela estava do lado do rapaz no chão. Abaixei e peguei. Nesse momento, a única coisa que me lembrei foi das coronhadas. Acho que por isso que tive aquele desabafo. Falei: ‘Você quase me matou!’. E dei um chute [na cabeça dele]. Em outra situação, se fosse uma pessoa despreparada, teria executado ele lá. Não tenho dúvida nenhuma.
Se tivesse com passageiro, não reagiria. Penso nisso quando ando com a minha família. Se estiver com eles e for assaltado, vai levar tudo. Eu não escolhi matar ninguém. Eu não tive opção. As críticas foram de pessoas ligadas aos direitos humanos, que estão lá para isso. Se você pisar no pé de alguém, vai ser condenado. São pessoas ligadas aos infratores, são familiares.
Vejo o apoio, seja da Câmara, do [deputado federal] Major Olímpio [SD-SP], do Coronel Camilo, ou do Coronel Telhada [deputados estaduais pelo PSD] como correto.
Fui criado na periferia com dificuldade, sou de geração humilde e nem por isso algum dos meus irmãos saiu para fazer algum tipo de atividade criminosa. Sempre aprendemos na legalidade, tudo que temos é com suor. Então aceito isso com muita satisfação.
De folga é a primeira vez que isso acontece. Em serviço já me envolvi em outras duas ocorrências [com mortes], as duas foram arquivadas como legítimas. A gente se prepara todo dia, mas não espera que aconteça. Nossa meta é não precisar.
O que me atrapalhou foi que meu carro ficou conhecido. Isso me preocupou, a ponto de pegar outro carro emprestado, mas decidi que não vou ficar refém. Não vou mudar minha vida, me trancar, mudar de carro, por uma coisa que eu fiz corretamente. Eu tenho convicção de que não fiz nada de errado.