Conheça a opinião dos candidatos sobre assuntos de interesse do Brasil; eleição é hoje
Os norte-americanos vão às urnas, hoje, escolher o próximo presidente do país. O resultado da disputa polarizada entre o republicano Donald Trump e a democrata Hillary Clinton pode afetar o Brasil e outros países da América Latina em vários aspectos. Além de ser a maior potência econômica do planeta, os Estados Unidos mantêm relações comerciais e diplomáticas com todos estes países. O CORREIO fez um levantamento sobre os principais pontos em comum para você entender por que a disputa americana interessa aos brasileiros.
O primeiro ponto que interessa ao Brasil é o comércio internacional e a maneira como os dois candidatos e seus partidos encaram as relações comerciais entre os EUA e outros países. Outro assunto que chama a atenção é como o novo presidente deverá tratar os imigrantes, já que mais da metade dos brasileiros que mora nos Estados Unidos vive em situação irregular.
Para o especialista em Relações Internacionais, Manuel Furriela, o resultado das eleições nos EUA terá impacto em todo o mundo. “Não podemos nos esquecer que os Estados Unidos ainda são a principal potência econômica, política e militar do mundo, mesmo com a ascensão chinesa. Ademais, os investimentos de empresas americanas são muito representativos no parque industrial brasileiro”, afirma.
Negócios
Atualmente, os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Entre 2005 e 2014, as transações comerciais entre Brasil e EUA cresceram de US$ 35,2 bilhões para US$ 62 bilhões. Até o final de 2014, os EUA representavam 13% das participações no comércio exterior do Brasil.
Durante seu governo, o atual presidente Barack Obama reconheceu a importância de aproximar o comércio dos dois países, embora nunca tenha se aproximado muito da ex-presidente Dilma Rousseff, afastada após o processo de impeachment. A relação entre os dois, inclusive, foi ainda mais afetada após a revelação de que o governo americano havia espionado a então presidente brasileira.
No que diz respeito a uma maior abertura comercial aos produtos brasileiros, o Partido Republicano tem, historicamente, maior inclinação à defesa do livre comércio. Já o Partido Democrata é mais tendencioso ao protecionismo. Por esta lógica, seria Donald Trump o candidato mais favorável aos interesses econômicos do Brasil. Porém, durante a campanha, Trump inverteu essa lógica ao propor renegociar os acordos comerciais firmados pelos EUA para preservar empregos e reduzir o déficit americano nas transações com outros países.
Por outro lado, Hillary Clinton vem demonstrando uma postura mais flexível quanto ao comércio exterior. Quando senadora, ela votou a favor de alguns acordos que ampliaram as transações dos EUA com outras nações, como Chile, Omã e Vietnã.
De acordo com o professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília Antonio Jorge Ramalho da Rocha, as relações entre Brasil e Estados Unidos não devem mudar muito após a eleição do novo presidente. “É possível que aumente a pressão para abrir o mercado brasileiro em algumas áreas e que haja alguma retaliação caso o câmbio continue depreciado, mas serão pressões setoriais, facilmente administráveis pelas burocracias”, afirmou à Veja.
Política de imigração
Segundo dados do governo do Brasil, mais de um milhão de brasileiros vivem nos Estados Unidos. Desses pelo menos 730 mil estão em situação migratória irregular. Este é, portanto, o segundo assunto que mais interessa ao Brasil.
A candidata democrata Hillary Clinton tem afirmado que, se for eleita, apresentará uma proposta para que a maioria dos imigrantes sem documentos possa se regularizar. Ela diz que só deportará aqueles que cometam crimes violentos. O discurso acolhedor aos imigrantes faz com que Hillary seja a preferida entre os eleitores latinos e apresente ampla liderança nas pesquisas com esse público.
Já o republicano Donald Trump e seu discurso de “caça aos imigrantes” tem sido o terror dos habitantes ilegais e dos latinos que vivem formalmente nos EUA. Ele prometeu que, se eleito, vai construir um muro na fronteira dos EUA com o México e quer deportar todos os imigrantes sem documentos. Outra promessa do magnata é anular os decretos concedidos durante gestão de Obama, que regularizam de forma temporária a residência de milhares de imigrantes.
A advogada especialista em imigração Ingrid Baracchini explica, porém, que Donald Trump não pode alterar as leis migratórias, se for eleito. “O presidente americano, geralmente, não altera as leis de imigração que são codificadas. O que ele pode alterar, por meio de decretos, por exemplo, são os benefícios concedidos”, detalha Baracchini.
Último dia de campanha
Ontem, véspera da eleição, Hillary e Trump realizaram uma verdadeira maratona na tentativa de ganhar os votos dos indecisos. Trump passou pelos estados da Flórida, Carolina do Norte, Pensilvânia, New Hampshire e Michigan. Ele voltou a atacar a democrata. “(Hillary) está protegida por um sistema totalmente arranjado (...), por uma classe dirigente em Washington completamente corrupta”, disse o magnata na Flórida.
Já a sua rival democrata fez campanha na Carolina do Norte, Michigan e Pensilvânia. Hillary pediu aos eleitores da Pensilvânia que votassem com seus próprios princípios. “Vote nas causas que têm importância para você, porque elas também estão ali na cédula, não é só o meu nome ou o nome do meu oponente”, afirmou.
Pesquisas indicam disputa acirrada no fim da campanha
As pesquisas de intenção de voto divulgadas ontem indicam que a eleição para a Presidência dos Estados Unidos vai ser definida por uma margem pequena. E os dois principais candidatos têm chances de vitória. Ontem, duas pesquisas que foram divulgadas apontaram resultados diferentes para a eleição que será finalizada hoje.
Uma nova pesquisa da rede de televisão CBS e do jornal The New York Times mostrou a candidata à Presidência pelo Partido Democrata, Hillary Clinton, quatro pontos à frente de seu rival, Donald Trump. No levantamento, Hillary tem 47% das intenções de voto, enquanto Trump aparece com 43%. A margem de erro da pesquisa é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. No levantamento anterior da CBS/NYT, do dia 3 de novembro, Hillary liderava com 45% e Trump aparecia com 42%. A pesquisa ouviu 1.753 possíveis eleitores, entre os dias 2 e 6 deste mês.
Em outra pesquisa, da Investor's Business Daily (IBD) e da TechnoMetrica Market Intelligence (TIPP), também divulgada ontem, Donald Trump, candidato pelo Partido Republicano, apareceu dois pontos à frente da democrata Hillary Clinton. Segundo o levantamento, Trump aparece com 43,1% das intenções de voto, enquanto Hillary conta com 40,7%.
A liderança de dois pontos de Trump sobre Hillary é a maior nos 20 dias de pesquisa, de acordo com o Investor's Business Daily. Entretanto, em uma disputa somente entre Trump e Hillary, excluindo os outros candidatos, a democrata mantém a liderança, com 43% das intenções de voto, ante 42% do republicano.
No cenário de disputa acirrada, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, atravessou o país no último dia antes das eleições presidenciais em um ato final para tentar empurrar a campanha de Clinton. Depois de começar o dia na capital, Washington, Obama foi a Michigan, de lá foi a Durham, em New Hampshire, depois, à Filadélfia para encerrar a campanha ao lado de sua mulher, Michelle Obama, de Hillary e Bill.