Quase um mês após o registro do primeiro caso, a chamada “doença misteriosa” ainda intriga os órgãos de saúde do estado e da prefeitura. Sem resultados concretos, amostras de sangue, fezes e urina de pacientes com sintomas suspeitos foram enviadas para análise na Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e a um laboratório do Alabama, nos Estados Unidos (EUA).
Não há previsão de quando os resultados da investigação ficarão prontos. Enquanto isso, o número de pessoas que apresentaram os sintomas da enfermidade – dores musculares intensas súbitas no pescoço e tórax e urina escura – saltou, na última semana, de 30 para 52 novos casos. Os registros foram feitos em Salvador (50), Lauro de Freitas (1) e Vera Cruz (1).
A expectativa das secretarias da Saúde do Estado (Sesab) e do Município (SMS) é que os laudos dos exames realizados fora da Bahia consigam apontar alguma pista sobre a causa da doença, pois as análises realizadas pelo Laboratório Central de Saúde Pública Professor Gonçalo Muniz (Lacen), não apontaram anormalidades.
Parte das estudos foi financiada pelo Governo do Estado e, outra, por intermédio do Ministério da Saúde (MS). A assessoria da Sesab não soube informar os custos da análises.
De acordo com a diretora da Vigilância Epidemiológica da Sesab (Divep), Maria Aparecida Araújo, até que os resultados fiquem prontos, a doença continua sendo uma incógnita para os profissionais da saúde e médicos do estado. Por isso, segundo ela, postos e hospitais estão redobrando a atenção para a entrada de pacientes com qualquer um dos sintomas suspeitos.
“Assim que detectada a suspeita, seja numa unidade pública ou particular, os profissionais estão sendo orientados a realizar uma entrevista ampla com o paciente, que vai desde questionamento sobre os sintomas, até onde a pessoa esteve, dentre outras questões. A intenção é encontrar pistas”, afirmou.
Investigação
Além do estudo do material enviado para fora do estado, também estão sendo realizadas pesquisas na água consumida por alguns pacientes. O propósito, segundo a diretora de Vigilância à Saúde da SMS, Gerusa Moraes, é descartar qualquer tipo de suspeita. “Estamos esperando e, enquanto isso, estamos realizando reuniões para averiguar caso a caso”, disse.
Além dos registros dos pacientes que estão dando entrada nos postos com os sintomas da doença, a SMS tem buscado, de acordo com Gerusa, pessoas que apresentaram dores musculares súbitas e ocorrência de urina escura e que não procuraram atendimento médico em unidades de saúdes do estado.
“Estamos realizando uma busca para identificar pessoas que foram acometidas pela doença mas que tiveram resolução tão rápida e sequer procuraram atendimento. Essa é, também, uma das características da doença. Do mesmo jeito que aparece de forma abrupta, também some rapidamente, em alguns casos”.
Óbito ligado à patologia
Na última semana, foi registrado o primeiro óbito relacionado à “doença misteriosa”. O caso aconteceu em Vera Cruz, em Itaparica. O nome e a idade do paciente não foram divulgados pela Secretaria de Saúde do Estado (Sesab).
A Vigilância Epidemiológica da Sesab informou que a doença “apenas agravou o estado de saúde da pessoa, que já apresentava outras comorbidades, como hipertensão”.
Nos registros da Divep, constam informações dadas por familiares do paciente, que relataram aos médicos que os sintomas apareceram após ele ter comido peixe assado em uma barraca de praia, na Ilha de Itaparica. Não há detalhes sobre o tipo de peixe ingerido.
“O óbito não foi causado pela doença. Não podemos associar diretamente os sintomas à morte do paciente. Provavelmente ele teve o estado de saúde agravado pelos sintomas da doença”, afirmou a diretora da Divep, Maria Aparecida Araújo.
Consumo de peixes
Apesar de ter sido um dos materiais enviados para análise fora do estado, ainda não há confirmação sobre a relação da “doença misteriosa” com a ingestão de pescados. De acordo com a diretora de Vigilância à Saúde da SMS, Gerusa Moraes, em menos da metade dos casos suspeitos foi apontado o consumo do alimento.
“No início, as pessoas relataram o consumo de peixes e associaram ao aparecimento dos sintomas. Agora, não há mais a associação. Não queremos relacionar a doença à contaminação alimentar através do consumo de peixes. Por outro lado, não podemos descartar nenhuma hipótese. É cedo para apontar qualquer causa e também para descartar. Vamos aguardar o resultado das análises que estão sendo realizadas”, afirmou.