Corrosão danifica vigas do Castelo Garcia d'Ávila

Corrosão danifica vigas do Castelo Garcia d'Ávila



Vigas de ferro que sustentam escadarias e passarelas instaladas nas ruínas do Castelo Garcia D’Ávila, de estilo medieval estão comprometidas pela corrosão decorrente do tempo e salitre. As estruturas foram inseridas na edificação, em 2002, para permitir uma melhor visão interna de áreas nobres, por turistas e pesquisadores.  O sítio histórico está localizado em Praia do Forte, em Mata de São João.
Solicitação para o restauro das vigas foi encaminhada pela Fundação Garcia D’Ávila desde 2006, ao Iphan-Instituto do Patrimônio Artístico Nacional. Segundo a entidade, não houve qualquer posicionamento do órgão. A reportagem da Tribuna da Bahia também procurou o órgão, desde a última segunda-feira, e também não obteve retorno.
O Castelo ou Casa da Torre foi um dos primeiros patrimônios arquitetônicos tombados pelo Iphan, quando ainda era Sphan, em 1937. O Castelo da Torre de Garcia D’Avila é considerado a primeira grande edificação portuguesa construída no Brasil e exemplar único de Castelo em estilo medieval construído na América. 
De acordo com a funcionária da Fundação, Vanessa Rode, “mesmo com a estrutura estando em situação precária, merecendo restauro, não há nada que possa provocar acidentes”. Ela informou, todavia, que o número de visitantes nas passarelas, a cada tour, foi reduzido de 20 para 14. “Sempre que temos eventos e a presença de grupos maiores o acesso é limitado por questões de segurança”. O Castelo dispõe de 12 funcionários e suas ruínas são mantidas em ótimas condições de higiene e limpeza.
A Casa da Torre foi construída entre 1551 e 1624, a 73 metros acima do mar, no ponto mais alto de toda a região, até Sergipe. O acesso ao equipamento, a 3 quilômetros da entrada de Praia do Forte, vem sendo pavimentado pela prefeitura local. A Fundação Garcia D’Ávila administra, também, a Reserva de Sapiranga, na região de Praia do Forte. São 533 hectares de terra, caracterizados como uma área secundária de Mata Atlântica, por ter sido devastada para o plantio da monocultura do coco e para a prática de pecuária extensiva durante a colonização portuguesa. Hoje, a Mata Atlântica vem se recompondo de forma natural e exuberante na reserva.


Eventos
 A visita à Casa da Torre ocorre de domingo a domingo, com ingressos a R$ 10, e meia-entrada para idosos, professores e estudantes. A taxa é avaliada como “a título de contribuição, cuja arrecadação é destinada à manutenção e proteção das ruínas, gerando empregos para a população nativa”. A Casa da Torre dispõe de uma maquete de como poderia ter sido a edificação, a um só tempo residência e fortificação militar. Ganhou um Centro de Visitação com 1.700metros quadrados, formado por um amplo salão onde está exposta a maquete do Castelo e espaços com salas para exposições históricas e arqueológicas, loja, salão para áudio visual, belvedere e centro administrativo.
Dispõe, ainda, de laboratório de arqueologia que reúne pedras, louças, materiais em estilo barroco, cerâmicas portuguesa, chinesa e indígena, além de crânios encontrados no cemitério que existia ao lado da Capela erguida em louvor a Nossa Senhora da Conceição e que passou a louvar a Todos os Santos. 
O projeto de converter o espaço em um “museu a céu aberto” já deveria ter sido concluído desde 2010, conforme narrativa no vídeo exibido no local sobre a história do Castelo. As peças vêm sendo catalogadas e restauradas. Há quadros e painéis pintados pelo artista plástico argentino Mariano Artega adornando o salão. 
Conforme o site da Fundação Garcia D’Ávila, o equipamento foi tornado em Parque Histórico e Cultural, “um complexo que compreende as ruínas da Casa da Torre ou o Castelo e um sítio arqueológico na área do seu entorno”. O Parque oferece espaço para eventos, como cerimônias de casamentos, comemorações, aniversários, exposições e festas de empresas, sob regras comportamentais estabelecidas pelo Iphan e pela Fundação e dos quais são obtidos recursos para a manutenção do Castelo e outras ações da entidade.
Sede de latifúndio do bastardo de Thomé de Souza
A propriedade era a sede do imenso latifúndio adquirido e ampliado por Garcia de Sousa D’Ávila (São Pedro de Rates, 1528 – Salvador, 20 de maio de 1609), filho bastardo de Thomé de Souza, a quem acompanhou na vinda ao Brasil como primeiro governador-geral e fundador de Salvador, em 29 de março de 1549. D’Ávila foi nomeado, em 1º de junho daquele ano, como “feitor e almoxarife da Cidade do Salvador e da Alfândega”, um cargo sem ordenado, arriscando-se a viver dos azares do negócio, tendo apenas “os prós e percalços que lhes diretamente pertencerem”.
Como os soldos e serviços eram pagos geralmente em mercadorias e muito raramente em dinheiro, Garcia D’Ávila recebeu, em 15 de junho, seu primeiro pagamento - duas vacas -, assim começando sua longa jornada de sucesso. Trabalhou com esforço austero e inexcedível energia durante a construção de Salvador e instalou-se inicialmente em Itapagipe, depois em Itapuã, vindo a se tornar o primeiro “bandeirante” do Norte. Tomé de Sousa doou a Garcia d’Ávila 14 léguas de terras de sesmaria que lhe haviam sido outorgadas pelo rei Dom Sebastião.
As terras iam de Itapuã até o Rio Real e Tatuapara, pequeno porto 50 metros sobre o nível do mar. Foi lá que Garcia D’Ávila, após derrotar tribos indígenas existentes ao norte de Salvador, ergueu sua Casa da Torre, em 1550. Em 1557 já era o homem mais poderoso da Bahia.
Grande desbravador, no final do século 16  sua propriedade já era a maior do Brasil, a se estender do Rio Itapicuru, no Norte, ao Rio Jacuípe, no Sul. Administrava seu latifúndio da Casa da Torre em Tatuapara, arrendando sítios a terceiros e fazendo uso de procuradores e ameríndios aculturados e libertos. Coube a ele ter trazido para o Brasil o gado nelore. Seu latifúndio ia de Praia do Forte até o Maranhão, perfazendo um total de 800 mil km², correspondentes a 1/10 do atual território brasileiro e com área equivalente à soma dos territórios  de Portugal, Espanha, Holanda, Itália e Suíça.


Seu herdeiro foi o neto Francisco Dias D’Ávila Caramuru, primogênito de sua filha Isabel D’Ávila (uma índia) e de Diogo Dias, filho de Genebra Álvares e Vicente Dias, neto de Diogo Álvares, o Caramuru, e Paraguaçu. Francisco foi o responsável pela conclusão da Casa da Torre, em 1624. A edificação tornou-se fundamental na defesa da costa e nas lutas contra os invasores holandeses e franceses, além de ponto de partida para os sertanistas que viriam a colonizar o Nordeste. A construção foi realizada por malfeitores (ladrões e assassinos) portugueses. O Castelo foi abandonado no final do século 19 e sua restauração iniciada em 1999.
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